Segurança do Paciente

Segurança do Paciente: conheça sua importância para qualidade assistencial, impacto de protocolos inadequados e como a segurança afeta a satisfação e resultados clínicos

(CUNHA, 2025).

11/6/20258 min read

Segurança do Paciente: O Alicerce da Qualidade Assistencial

A segurança do paciente constitui fundamento essencial para qualidade assistencial nos serviços de saúde. A ausência de medidas adequadas de segurança e a falta de protocolos assistenciais estruturados resultam em eventos adversos evitáveis, comprometendo não apenas a recuperação e o bem-estar do paciente, mas também a credibilidade e sustentabilidade das instituições de saúde.

Impacto da Insegurança na Qualidade Assistencial

A literatura científica brasileira e internacional demonstra que instituições sem programas robustos de segurança do paciente apresentam taxas significativamente maiores de eventos adversos, infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) e complicações evitáveis. Estudos conduzidos em hospitais públicos e privados evidenciam que a inexistência de protocolos padronizados para procedimentos críticos—como identificação de pacientes, cirurgia segura, administração de medicamentos e prevenção de quedas—resulta em erros potencialmente fatais.

A qualidade assistencial não pode ser dissociada da segurança. Conforme definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), qualidade em saúde refere-se ao grau em que os serviços de saúde aumentam a probabilidade de alcançar resultados desejados e são consistentes com conhecimento profissional corrente. Sem segurança adequada, esta definição não pode ser plenamente atingida, pois há risco permanente de dano ao paciente.

Consequências da Falta de Protocolos Assistenciais

A ausência de protocolos estruturados cria ambiente propício para variabilidade excessiva nas práticas clínicas. Quando diferentes profissionais executam o mesmo procedimento de formas distintas, sem base em evidências científicas, aumentam as probabilidades de erro. Exemplos práticos incluem: prescrições de medicamentos ilegíveis resultando em erros de administração; falta de checklist pré-operatório levando a cirurgias em local ou paciente errado; ausência de avaliação sistemática de risco de queda resultando em traumas graves.

Pesquisa realizada em hospitais brasileiros mostrou que 42% dos eventos adversos poderiam ter sido prevenidos através da implementação de protocolos simples e educação dos profissionais. Isto demonstra que não se trata de problemas insolucionáveis, mas de lacunas organizacionais evitáveis através de gestão adequada de riscos e segurança.

Reflexo na Percepção de Qualidade pelo Paciente

A satisfação do paciente é indicador importante de qualidade assistencial e está diretamente relacionada à sensação de segurança durante o cuidado. Pacientes que presenciam falhas na identificação, recebem medicações erradas ou sofrem quedas durante internação não apenas têm sua saúde prejudicada, mas também desenvolvem desconfiança na instituição, afetando sua experiência geral.

Estudos sobre cultura de segurança hospitalar revelam que instituições com comunicação efetiva entre profissionais, uso de protocolos consensuais e ambiente não punitivo para relato de erros apresentam: menor incidência de eventos adversos, maior satisfação de pacientes e profissionais, e melhores indicadores de qualidade geral.

Impacto Econômico e Institucional

Além dos danos clínicos e emocionais aos pacientes, eventos adversos resultantes de insegurança geram custos significativos. Hospitalizações prolongadas, realização de procedimentos adicionais para correção de erros, processos judiciais e danos reputacionais representam ônus financeiro substancial. Instituições que investem em segurança do paciente reduzem custos operacionais através da prevenção de eventos adversos.

Adicionalmente, a acreditação hospitalar e certificações de qualidade (como ONA - Organização Nacional de Acreditação) exigem demonstração comprovada de segurança do paciente como requisito obrigatório. Ausência de programas de segurança estruturados impede que instituições alcancem reconhecimento de qualidade e competitividade no mercado.

Integração entre Segurança e Qualidade

A segurança do paciente deve ser entendida como componente integrante da qualidade assistencial, não como atividade separada. Gestão da qualidade efetiva incorpora princípios de segurança em todos os processos: desde avaliação de satisfação do paciente até monitoramento de indicadores clínicos e gestão de riscos.

Instituições que estabelecem clara conexão entre Departamento de Qualidade e Núcleo de Segurança do Paciente (NSP) alcançam resultados superiores em indicadores de segurança e satisfação. Esta articulação permite que gestão de riscos, implantação de protocolos e educação permanente funcionem de forma sinérgica e coordenada.

Protocolos Assistenciais como Ferramentas de Qualidade

Os seis protocolos básicos de segurança do paciente (identificação do paciente, higiene das mãos, cirurgia segura, segurança medicamentosa, prevenção de quedas e prevenção de lesões por pressão) representam ferramentas comprovadas de qualidade assistencial. Sua implementação sistemática e monitoramento contínuo reduzem eventos adversos e melhoram desfechos clínicos.

Estudos desenvolvidos em instituições brasileiras comprovam a efetividade dessa abordagem. Pesquisa realizada em hospital de ensino após implantação estruturada dos protocolos de segurança do paciente documentou redução de 35% na incidência de eventos adversos e aumento de 28% na satisfação dos pacientes. Esses resultados reforçam que investir em segurança do paciente não é apenas obrigação legal, mas estratégia comprovada de melhoria da qualidade assistencial (SANTOS et al., 2022). Essa referência é utilizada como evidência prática de que:

  • A implementação estruturada dos protocolos de segurança do paciente é efetiva;

  • Resultados mensuráveis ocorrem em hospitais brasileiros;

  • A qualidade assistencial melhora significativamente com NSP bem estruturado;

  • Satisfação do paciente aumenta quando há investimento em segurança;

  • Eventos adversos são reduzidos através de gestão sistemática de riscos.

Conclusão

A falta de segurança do paciente e protocolos assistenciais inadequados compromete fundamentalmente a qualidade assistencial, afetando desfechos clínicos, satisfação de pacientes e profissionais, sustentabilidade financeira e reputação institucional. Investir em segurança não é apenas obrigação legal ou ética, mas estratégia essencial para alcançar excelência na qualidade do cuidado em saúde.

Referências:

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