





Práticas invasivas de enfermagem
Punção e Cateterismo Venoso
Os procedimentos de acesso venoso são entre os mais realizados pela equipe de enfermagem. A punção venosa periférica envolve a introdução de um cateter em veias superficiais para administração de medicamentos e fluidos. A técnica requer colocação do bisel da agulha voltado para cima com angulação de 30°, observação do refluxo sanguíneo e fixação adequada do cateter com curativo estéril. O cateter venoso central (CVC) é um procedimento mais complexo frequentemente realizado em CTI, indicado para administração de drogas vasoativas, nutrição parenteral, hemodiálise e monitorização hemodinâmica. Embora a inserção do CVC seja atribuição médica, o enfermeiro é responsável pela manutenção, monitorização de sinais flogísticos, higienização do local de inserção e prevenção de infecções associadas. Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
Punção Arterial
A coleta de sangue arterial para gasometria é procedimento privativo do enfermeiro, conforme Resolução COFEN nº 703/2022. Realizada nas artérias radial, braquial, femoral ou pediosa, exigindo conhecimento técnico específico e realização do teste de Allen previamente em punções radiais. O sangue deve ser coletado de forma espontânea sem aspiração, mantendo a amostra anaeróbia e protegida do ar. Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
Cateter Venoso Central de Inserção Periférica (PICC)
O PICC é um dispositivo de inserção periférica com acesso central, sendo o procedimento invasivo mais recorrente em pacientes em atenção domiciliar, com utilização de 92% em alguns estudos. Requer técnica asséptica rigorosa e conhecimento em cuidados de manutenção para prevenir infecções. Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
Procedimentos de Vias Aéreas e Respiratórios
Aspiração de Secreções de Vias Aéreas
A aspiração de vias aéreas é procedimento realizado em pacientes intubados ou traqueostomizados que não conseguem eliminar secreções espontaneamente. Envolve introdução de sonda de aspiração, aspiração com movimentos rotatórios e monitorização de complicações como hipoxemia e bradicardia. Requer avaliação prévia da necessidade, técnica asséptica e observação de parâmetros fisiológicos durante e após o procedimento. Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
Cuidados com Intubação Endotraqueal e Traqueostomia
Embora a intubação seja procedimento médico, o enfermeiro assiste na preparação, sedação, verificação de posicionamento do tubo, inflação do balonete e fixação adequada. Para traqueostomia, o enfermeiro realiza curativos da traqueostomia, troca de cadarço, higiene e monitorização de sinais de infecção. Sempre de acordo com o protocolo da instituição. Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
Procedimentos de Drenagem
Drenagem Torácica
A drenagem torácica é procedimento realizado pelo médico, porém o enfermeiro é responsável pelos cuidados essenciais: monitorização do volume e características da drenagem, realização de curativos oclusivos, observação de sinais de complicações e registro detalhado no prontuário. A enfermagem assiste na instalação e mantém o sistema de drenagem funcional e sem ar entrando pela ferida operatória. Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
Toracocentese
Procedimento diagnóstico e terapêutico realizado pelo médico para coleta ou alívio de líquido pleural, no qual o enfermeiro assiste na preparação, posicionamento do paciente e monitorização pós-procedimento. Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
Procedimentos de Alimentação e Eliminação
Sondagem Nasogástrica
A sondagem nasogástrica é procedimento comum para nutrição enteral, esvaziamento gástrico de urgência e administração de medicamentos. Envolve medição correta da sonda, lubrificação, inserção pela narina, confirmação de posicionamento (ausculta, pH gástrico ou radiografia), fixação adequada na face e monitorização de complicações como aspiração. Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
Sondagem Nasoenteral
Variação da sondagem nasogástrica que avança além do estômago até o intestino delgado, indicada quando o estômago não está funcional. Requer técnica semelhante, mas com confirmação radiográfica obrigatória do posicionamento.
Cateterismo Vesical de Demora
O cateterismo vesical é um dos procedimentos mais prevalentes em CTI. É um procedimento invasivo e, portanto, envolve antissepsia adequada da uretra, inserção estéril do cateter até visualização de urina, conexão em sistema fechado estéril e fixação adequada. Requer vigilância constante para sinais de infecção urinária e obstrução do cateter. Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
Gastrostomia e Jejunostomia
Em atenção domiciliar e CTI, gastrostomias e jejunostomias são frequentes (46,1% dos procedimentos nutricionais em estudo). O enfermeiro realiza cuidados de limpeza do local, infusão de alimentação enteral e monitorização de complicações. Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
Procedimentos de Higiene e Conforto
Higiene Oral
A higiene oral é responsabilidade da equipe de enfermagem, envolvendo escovação de dentes com cerdas macias, limpeza de gengivas, língua, palato e lábios. Em pacientes com tubo orotraqueal, utiliza-se técnica específica com gazes embebidas em solução antisséptica. A higiene oral adequada previne pneumonia associada à ventilação mecânica (PAVMI). Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
Banho no Leito
O banho no leito é procedimento de higiene total ou parcial em pacientes acamados, incluindo limpeza do corpo, lavagem de cabelo quando possível, secagem completa e hidratação de pele. Segue sequência anatomicamente organizada e utiliza diferentes técnicas como água e sabão ou toalhas descartáveis umedecidas. Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
Tricotomia
A remoção de pelos de áreas específicas é realizada conforme necessidade ou solicitação médica, geralmente 2 horas antes de cirurgias ou exames, utilizando lâmina descartável com estiramento de pele e movimento no sentido do pelo. Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
Limpeza do Períneo
Incluída no banho no leito ou realizada em procedimento específico, com água e sabão para higiene adequada de genitália e períneo. Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
Procedimentos de Curativos
Curativo de Feridas Operatórias
O curativo de feridas cirúrgicas é realizado com técnica asséptica, utilizando gaze estéril, solução fisiológica, antissépticos como clorexidina alcoólica e fixação com esparadrapo hipoalergênico ou curativo sendo indicados conforme cada demanda e de cada paciente. Deve ser trocado diariamente ou conforme necessidade, sendo realizando as anotações necessárias e completas de todos os procedimentos. Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
Curativo de Traqueostomia
Realizado com técnica asséptica, limpeza da área ao redor da traqueostomia com solução antisséptica, e troca de curativo próprio conforme protocolo da instituição. Mantendo a ventilação adequada para o paciente, monitorando a necessidade de trocas e cuidados específicos a cada paciente. Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
Curativo de Cateteres
O curativo do local de inserção de CVC, PICC e outros cateteres deve ser oclusivo e datados, realizado com técnica asséptica e monitorização diária de sinais flogísticos (rubor, calor, tumor, dor e presença de secreção purulenta). Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
Procedimentos de Posicionamento e Mobilização
Mudança de Decúbito e Mobilização
A mudança de posição é realizada a cada 2 horas em pacientes críticos, ou conforme restrições prescritas pelos médicos, rotativizando entre decúbito dorsal, lateral direito, lateral esquerdo e ventral quando permitido. É considerada mobilização terapêutica que influencia mecanicamente a ventilação e oxigenação do paciente, devendo ser realizada conforme avaliação clínica individual.
Posicionamento Adequado
Inclui uso de travesseiros, almofadas entre joelhos, tornozelos e calcanhares para prevenir úlceras por pressão e proporcionar alinhamento corporal adequado.
Aferição de Sinais Vitais
O enfermeiro é responsável pela mensuração regular de temperatura corporal, frequência respiratória, frequência cardíaca, pressão arterial e saturação de oxigênio (oximetria de pulso), por meio do auxílio da equipe de enfermagem (técnicos). Deve estar atento para correlacionar as alterações com o quadro clínico do paciente e comunicar ao médico em caso de desvios significativos. Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
Procedimentos de Monitorização
Monitorização Invasiva da Pressão Arterial
Procedimento em que normalmente o médico instala e mantém cateter intra-arterial para monitorização contínua pressórica em pacientes críticos, requerendo cuidados com biossegurança, limpeza de transductores e interpretação de ondas de pressão. O enfermeiro é responsável pela manutenção da permeabilidade do cateter e toda monitorização contínua, com cuidados e vigilância constantes com o auxílio do técnico de enfermagem. Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
Pressão intra-abdominal e Pressão intra-vesical
A pressão intra-abdominal é a força exercida pelo conteúdo dentro da cavidade abdominal contra a parede abdominal, variando com a respiração e o tônus da parede, e deve ser expressa em mmHg medida em decúbito dorsal ao final da expiração.
Valores normais
Em adultos saudáveis, a faixa típica é cerca de 2–7 mmHg; em pacientes críticos costuma-se considerar 5–7 mmHg como basal esperado.
Em obesidade ou condições que aumentam a pressão de base, podem ocorrer valores de 10–15 mmHg sem necessariamente indicar patologia imediata.
Hipertensão intra-abdominal
Define-se hipertensão intra-abdominal quando a pressão é sustentada ou repetida acima de 12 mmHg, idealmente confirmada em três medidas com 4–6 horas de intervalo.
Classificação comum: Grau I 12–15 mmHg, Grau II 16–20 mmHg, Grau III 21–25 mmHg, Grau IV maior que 25 mmHg.
Síndrome compartimental abdominal
Ocorre quando a pressão permanece maior que 20 mmHg associada a disfunção orgânica, exigindo avaliação e intervenções para descompressão e otimização hemodinâmica.
Como medir na prática
Método indireto padrão é via bexiga (intravesical): paciente em decúbito dorsal, ao final da expiração, com transdutor zerado na linha axilar média ao nível da crista ilíaca; muitos protocolos instilam 25 mL de solução salina estéril para a leitura.
A pressão deve sempre ser registrada em mmHg; se usar cmH2O, converter por mmHg = cmH2O/1,36.
Administração de Medicamentos Parenterais
A equipe de enfermagem, sob supervisão do enfermeiro, administra medicamentos por via intravenosa, intramuscular e subcutânea conforme prescrição médica ou de enfermagem. Envolve identificação correta do paciente, preparo asséptico, escolha correta do local de injeção e técnica apropriada para cada via. Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
Via Intravenosa (IV)
Administração de medicamentos e soluções através de acesso venoso periférico ou central, incluindo verificação de compatibilidade, monitorização de reações adversas e registro adequado. Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
Via Intramuscular (IM)
Aplicação de medicamentos no tecido muscular, requerendo identificação de massa muscular adequada, técnica Z-track quando indicado e observação de absorção correta. Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
Via Subcutânea (SC)
Administração de medicamentos no tecido subcutâneo, utilizada frequentemente para anticoagulantes, insulina e vacinas.
Coleta para Testes Pré-Transfusionais
A coleta de amostras sanguíneas para exames diversos é realizada por técnicos e enfermeiros, incluindo orientação ao paciente sobre necessidade de jejum, seleção apropriada de tubos com aditivos específicos e técnica asséptica. Procedimento específico realizado por técnicos laboratoriais ou enfermeiros para obtenção de amostra em tubo com EDTA, com identificação correta do paciente e tubo para compatibilização sanguínea.
Orientação e Preparo do Paciente
O enfermeiro orienta pacientes quanto a necessidade de jejum, interrupção de medicações, realização de higiene específica e preparo psicológico para exames e procedimentos, sendo responsável por garantir adequado preparo conforme protocolo institucional.
Observações Importantes
Os procedimentos invasivos em CTI, PA e unidades de internação requerem conhecimento técnico-científico sólido, aplicação rigorosa de protocolos de biossegurança e prevenção de infecções relacionadas à assistência em saúde (IRAS). O enfermeiro desempenha papel fundamental na implementação de pacotes de prevenção, na educação continuada da equipe e na identificação precoce de sinais de complicações infecciosas. A qualidade da execução desses procedimentos influencia diretamente nos resultados clínicos e na segurança do paciente, justificando a necessidade de atualização constante e treinamento prático.
Cateter de Swan-Ganz (Cateter da Artéria Pulmonar - CAP)
O cateter de Swan-Ganz é um dos procedimentos mais complexos de monitorização hemodinâmica invasiva realizado em CTI. Embora a inserção seja atribuição médica, o enfermeiro desempenha papel fundamental em todas as etapas. O cateter é inserido através de uma veia central (geralmente jugular ou subclávia) e avança até a artéria pulmonar, permitindo a medição de pressões nas cavidades cardíacas direitas, tronco pulmonar, artéria pulmonar e pressão de oclusão pulmonar (PCP). Permite também o cálculo do débito cardíaco por termo-diluição e de outras variáveis hemodinâmicas como resistência vascular periférica e resistência vascular pulmonar.
Cuidados de Enfermagem com Swan-Ganz:
O enfermeiro é responsável pela manutenção do cateter através de inúmeras intervenções críticas. Deve manter a permeabilidade do cateter por meio de fluxo contínuo de solução heparinizada com troca a cada 24 horas, mantendo bolsa pressurizada com 300 mmHg. O posicionamento e calibração corretos do transdutor são essenciais para obtenção de leituras acuradas, com o zero hidrostático identificado e o comprimento do circuito limitado a 110 cm. A realização de teste de lavagem (fast flush) determina a resposta dinâmica do sistema de mensuração, e este procedimento deve ser realizado antes de cada medição, realizada a cada 12 horas. Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
O enfermeiro identifica no monitor as curvas de pressão e seus valores normais, registrando todos os valores das curvas no prontuário. Deve observar frequentemente as extensões e conexões para verificar e eliminar presença de bolhas de ar, evitando manipulação excessiva do cateter. A técnica asséptica é obrigatória ao manipular o sistema e o cateter, e curativos na inserção devem ser realizados diariamente, observando sinais flogísticos.
Cuidados específicos incluem: manter o paciente imóvel, se necessário com sedação ou restrição; monitorar frequentemente o funcionamento adequado do sistema para prevenir retorno sanguíneo pela extensão; nunca utilizar líquidos para insuflação do balonete, pois podem dificultar ou impedir a desinsuflação do balonete; e acompanhar o trajeto do cateter por radiografia de tórax. O paciente deve ser monitorado durante toda inserção e manutenção para detectar ocorrência de arritmias. Recomenda-se remoção do cateter entre 72 e 96 horas para reduzir chances de infecção. Existe dificuldade documentada entre enfermeiros na interpretação dos dados coletados, apontando necessidade de aprimoramento contínuo dos conhecimentos.
Balão Intra-Aórtico (BIA)
O Balão Intra-Aórtico é um dispositivo de suporte mecânico inserido na aorta descendente (geralmente via femoral) que fornece suporte hemodinâmico em situações de instabilidade grave. Funciona através de insuflação e desinsuflação sincronizadas com o ciclo cardíaco, aumentando a perfusão coronária na diástole e reduzindo a pós-carga na sístole, beneficiando pacientes com choque cardiogênico e insuficiência cardíaca aguda.
Cuidados de Enfermagem com BIA:
A monitorização contínua do membro onde o balão foi inserido é prioritária, com verificação dos pulsos periféricos (pedioso e tibial posterior) a cada 2 horas para garantir que não há obstrução arterial. Deve-se observar constantemente a coloração, temperatura e sensibilidade do membro afetado, avaliando sinais de isquemia. Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
O posicionamento do paciente é rigorosamente controlado: manter decúbito dorsal com elevação máxima da cabeceira em 30°, nunca ultrapassando 45°, e manter o membro com o cateter o mais imóvel possível, evitando flexão da articulação onde o BIA está inserido. A higiene corporal é realizada de maneira cuidadosa sem desconectar eletrodos e sem alterar o posicionamento do membro afetado, devendo utilizar higienizador cutâneo que proporciona movimentação mínima.
A permeabilidade da via arterial deve ser mantida através de lavagem intermitente com solução de heparina prescrita pelo médico, sendo esta de suma importância para prevenir trombose. Deve-se administrar adequadamente o anticoagulante prescrito, já que a trombose é complicação importante do BIA, especialmente em pacientes com doença vascular periférica e nos que não recebem terapia anticoagulante adequada.
Outro aspecto crítico é monitorar a quantidade de gás Hélio existente no torpedo (cilindro que alimenta o balão), realizando troca rápida do torpedo em caso de esvaziamento, de modo que não prejudique hemodinamicamente o paciente. Durante o desmame do BIA (procedimento de gradual redução do suporte), o enfermeiro acompanha a progressão conforme protocolo institucional.
Complicações do BIA e Vigilância:
As complicações mais frequentes do BIA são vasculares, sendo a isquemia do membro afetado a mais comum (25%), seguida de obstrução vascular (12,5%). Outras complicações incluem sangramento, ruptura do balão, infecção e integridade de pele prejudicada. Pacientes com doença vascular periférica prévia apresentam risco aumentado significativamente. Os pacientes que permaneceram por mais de 37 horas com o BIA apresentaram significativamente mais complicações que aqueles com mediana de 24 horas de uso. Os riscos podem ser minimizados pela avaliação clínica periódica associada à monitorização de valores laboratoriais como hematócrito, hemoglobina, plaquetas e marcadores de coagulação.
Instilação Intravesical (Administração de Medicamentos na Bexiga)
A administração intravesical é um procedimento invasivo mediante o qual medicamentos são introduzidos diretamente na bexiga através de um cateter (sonda uretral), permitindo ação localizada do fármaco no urotélio com mínimos efeitos sistêmicos. É frequentemente realizada em pacientes com câncer de bexiga não músculo-invasivo e pode ser conduzida em ambiente ambulatorial ou hospitalar.
Indicações Principais:
Os principais medicamentos administrados por via intravesical incluem BCG (Bacilo de Calmette-Guérin) e Mitomicina C, utilizados para reduzir recidiva e recorrência de tumores de bexiga. O BCG é considerado a melhor substância até o presente para tratamento de câncer superficial de bexiga de riscos intermediário e alto. A mitomicina C é utilizada preferencialmente em doses entre 20mg a 80mg (normalmente 40mg), especialmente em dose única pós-operatória dentro de 6 horas após ressecção transuretral do tumor vesical (RTU). Medicamentos experimentais em discussão incluem gencitabina, paclitaxel, docetaxel, interferon e termoquimioterapia.
Técnica de Administração:
O procedimento inicia com cateterismo vesical estéril, introduzindo cateter de Foley pela uretra até confirmação de esvaziamento vesical adequado. O medicamento é então instilado lentamente na bexiga através do cateter. Após instilação, o cateter é clampeado por período específico (normalmente 2 horas), durante o qual o paciente realiza mudanças de decúbito a cada 15 minutos para assegurar que a solução entre em contato com toda a superfície do urotélio. Após o período de retenção, a bexiga é drenada e o cateter removido. Sempre de acordo com o protocolo da instituição.
Protocolos de Tratamento:
Para mitomicina, a instilação é frequentemente dose única dentro de 24 horas após RTU, ou seguida por 6 instilações semanais e, se cistoscopia for negativa, instilações mensais por 1 ano. Para BCG, não há instilação no pós-operatório imediato, sendo iniciada apenas 2 semanas após RTU, consistindo em 6 instilações semanais (fase de indução) seguida de 3 instilações semanais (fase de manutenção) em esquema que se estende por 1-3 anos conforme risco do tumor. Estudos recentes demonstram que a mitomicina intravesical alcançou taxa de resposta completa de 78% em pacientes elegíveis, com 79% dos respondedores mantendo resposta por pelo menos 12 meses.
Cuidados de Enfermagem Específicos:
O enfermeiro deve certificar-se de que não há hematúria macroscópica antes de administrar BCG, pois esta é contraindicação relativa. Após cateterismo traumático, deve-se aguardar 2 semanas antes de iniciar BCG. Durante a retenção, orienta-se o paciente a permanecer em atividade leve, mudando de decúbito regularmente para melhor distribuição do medicamento. O enfermeiro instrui o paciente sobre a expectativa de ardência ao urinar nas primeiras 24 a 48 horas após o procedimento e possível hematúria leve. Em caso de administração de quimioterápicos intravesicais, utilizam-se equipamentos de proteção individual adequados (luvas e avental impermeáveis) devido aos riscos relacionados ao manuseio de agentes citotóxicos.
Complicações Potenciais:
As complicações mais comuns incluem disúria, hematúria, infecção do trato urinário e sintomas semelhantes aos da gripe (com BCG). Complicações mais graves, embora raras, incluem retenção urinária (0,8%), estenose uretral (0,4%) e, excepcionalmente, insuficiência cardíaca. Outros eventos adversos incluem distúrbios renais ou urinários levando à descontinuação do tratamento em até 2,9% dos pacientes. Durante o tratamento com BCG, o paciente pode apresentar febre, dor, calafrios e fadiga como sintomas semelhantes aos da gripe.
Contraindicações Relativas:
A administração intravesical de BCG é contraindicada em doentes com hematúria macroscópica, após cateterismo traumático, menos de 2 semanas após RTU-V e em doentes com infecção sintomática do trato urinário.
Este procedimento representa um tratamento oncológico importante específico, frequentemente necessário em pacientes com diagnóstico de câncer de bexiga, sendo essencial que o enfermeiro esteja familiarizado com suas técnicas, protocolos, complicações e medidas de proteção adequadas, especialmente quando envolvem quimioterápicosecialmente quando envolvem quimioterápicos sistêmicos.
Procedimentos Invasivos em Oncologia
Punção de Cateter Venoso de Longa Permanência (Port-a-Cath/Portocath)
O Dispositivo:
O Cateter Venoso Central Totalmente Implantável (cateter de longa permanência), popularmente conhecido como Port-a-Cath ou Portocath, é um dispositivo intravenoso composto por um tubo flexível de silicone ou poliuretano e um reservatório ("port") de titânio ou silicone implantado completamente sob a pele na região torácica anterior, logo abaixo da clavícula. O cateter é inserido em uma veia calibrosa (geralmente veia subclávia) e avança até a veia cava superior, próximo à entrada do coração. Tem duração de aproximadamente 2 a 5 anos e pode suportar até 2.000 punções.
Indicações:
Indicado principalmente para pacientes oncológicos que necessitam de múltiplas punções venosas para administração de quimioterápicos, coleta de amostras sanguíneas, transfusão de componentes sanguíneos, nutrição parenteral e antibioticoterapia prolongada. É especialmente indicado para reduzir a frequência de punções sequenciadas, minimizando desconforto e ansiedade do paciente, além de reduzir riscos de extravasamento e infecção.
Implantação:
A implantação é procedimento cirúrgico realizado privativamente pelo médico (cirurgião vascular ou cirurgião geral), geralmente em centro cirúrgico com anestesia local e sedação leve. O procedimento dura entre 30 minutos a 1 hora, com possibilidade de alta no mesmo dia. Após 7-10 dias, os pontos são removidos e a cicatrização ocorre normalmente.
Punção do dispositivo é privativa do enfermeiro:
A punção do cateter totalmente implantável é procedimento privativo do enfermeiro capacitado, conforme parecer do COREN. Deve ser realizada com rigorosa técnica asséptica, após antissepsia adequada da pele com solução alcoólica de clorexidina a 2%. Utiliza-se agulha específica Huber (agulha com ponta de bisel não cortante) que é introduzida perpendicularmente até atingir o fundo do reservatório, evitando a danificação do septo de silicone. O enfermeiro palpa o dispositivo para localizar precisamente a câmara de infusão e, após punção bem-sucedida, observa o refluxo sanguíneo para confirmar o acesso adequado.
Cuidados de Enfermagem com o dispositivo de longa permanência:
Após punção, o enfermeiro realiza heparinização inicial e mantém a permeabilidade através de lavagem regular com solução heparinizada conforme protocolo institucional. Na primeira punção realizada em centro cirúrgico, recomenda-se cobertura com gaze estéril nas primeiras 24 horas. O monitoramento diário inclui verificação de sinais flogísticos (rubor, calor, tumor, dor e secreção purulenta), sendo imperativo avaliar o local de punção a cada infusão.
Importantes cuidados incluem: nunca puncionar o cateter com a mesma agulha periférica usada em veias, manter registro cuidadoso de todas as punções realizadas no prontuário para rastreabilidade, realizar curativo oclusivo quando indicado e instruir o paciente sobre os cuidados com o dispositivo no domicílio.
Complicações:
As complicações do cateter totalmente implantável incluem infecção local ou sistêmica (septicemia), trombose do cateter, obstrução, extravasamento de quimioterapia, migração ou deslocamento do cateter, e pneumotórax (raro). Em estudos analisados, a taxa de complicações mostrou-se baixa, com resultados satisfatórios no seu uso em pacientes oncológicos. A infecção é complicação mais frequente em pacientes com neoplasia hematológica em comparação com tumores sólidos.
Administração de Quimioterápicos
Definição e Importância:
A administração de quimioterápicos é competência privativa do enfermeiro conforme Resolução COFEN nº 210/1998 e nº 257/2001. É procedimento complexo que requer conhecimento profundo sobre farmacologia dos agentes antineoplásicos, fisiopatologia do câncer, complicações e toxicidades decorrentes do tratamento. Durante toda a administração, o enfermeiro deve estar atento às queixas e respostas do paciente, avaliando continuamente o local da infusão para perceber alterações e proceder imediatamente em caso de complicações.
Vias de Administração:
A administração de quimioterápicos pode ser realizada por múltiplas vias: via oral, intravenosa, intramuscular, subcutânea, arterial, intratecal, intrapleural, intraperitoneal e intravesical. Cada via requer técnica específica e precauções diferentes.
Avaliação Pré-Administração:
Inicialmente, o enfermeiro avalia criteriosamente o acesso venoso do paciente (central ou periférico) verificando: presença de retorno venoso, ausência de sinais flogísticos, pérvio e seguro para administração. Verifica a presença de pré-medicações necessárias para diminuir toxicidade (antieméticos, corticoides, etc.), conforme protocolo. Realiza dupla checagem através da conferência da medicação com a prescrição, rótulo do medicamento, confirmando com o paciente seu nome completo antes da administração, garantindo medicamento correto, paciente correto e dose correta.
Equipamento de Proteção Individual (EPI):
O enfermeiro deve utilizar avental de mangas longas impermeável, luvas de procedimento duplas (é recomendado dupla luva por segurança), máscara e proteção ocular durante o preparo e administração de quimioterápicos. O manuseio das excretas do paciente em tratamento quimioterápico requer paramentação adequada devido aos riscos de exposição a agentes citotóxicos.
Monitoramento Durante e Após Administração:
Durante toda a infusão, o enfermeiro permanece atento às respostas do paciente, observando reações adversas imediatas como náusea, vômito, dispneia, flebite química e sintomas alérgicos. Monitora o local da punção continuamente, avaliando presença de dor, eritema, edema ou qualquer alteração que sugira extravasamento ou irritação local. Realiza acompanhamento pós-administração quanto aos efeitos colaterais esperados (neutropenia, náuseas, vômitos, inapetência, diarreia, alopecia, etc.) e efeitos tardios da quimioterapia.
Prevenção de Extravasamento:
O extravasamento é uma das complicações mais graves durante tratamento quimioterápico, ocorrendo em cerca de 6% dos pacientes em tratamento endovenoso com quimioterápicos. O enfermeiro deve identificar fatores de risco como: escolha inadequada do dispositivo, alterações das veias (fragilidade, esclerose), local inadequado da punção, alterações nutricionais, condições do membro (radioterapia prévia, linfadenectomia, edema).
Os sinais e sintomas de extravasamento incluem: dor local, eritema, edema, ausência ou diminuição de retorno venoso e redução da velocidade de infusão. Em caso de extravasamento, o procedimento deve ser abordado como emergência médica, com intervenção instantânea para reduzir danos críticos que podem incluir lesão com necrose, necessidade de desbridamento e enxerto de pele (drogas vesicantes). Uma das consequências mais críticas é o retardo do tratamento quimioterápico, prejudicando o prognóstico do paciente.
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